O comboio é um escorrega que baloiça saloio
Entre choques de trigos e cheias, passeantes de choupos da segunda-feira
Pouka terra pouka terra
Pontes, postes, sanitários- banheiras e laranjeiras anãs dopadas
Em condomínios fechados
Na berma dos carris, carruagens abandonadas
Quanto falta para (não) chegar a casa?
Pouka terra pouka terra pouka terra
Gruas, ruídos, estantes de rumores
Cabos, fins, exaustores
Não me canso não me canso não me canso
Nem alcanço a próxima paragem
A pasta do fiscal, um sinal e sinto-me picada
Por um roxo improvável na janela da fachada
Uma água em ângulo escaleno, contraceno com a bandeira de Portugal
E vedações, roupas a secar
Um presidente solidário, não se esqueça de votar
E logo recomeça o jogo aos dados
Dos quarteirões homologados
Kosmos intermarché
Supra-elevadas, matas, tanques
Containers vadios
Vazios e Graffitis, romãs e julietas
Vapor que não é neblina, nicotinas devaneadas
Janelas alistadas e mais vapor
Pavor misto
AUTO-LAVAGEM:
Uma viagem de comboio é isto
O resto é paisagem.
E antes que a Vasco da Gama acorde o último peixe
Vejo o feixe
De luxo do Oriente engolido pela manhã nascente.
E no jornal mais uma guerra
Pouka terra pouka terra pouka terra
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Paola D'Agostino (Mato de Miranda, 10/01/2011)
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